Quantos jornalistas são necessários para se montar um jornal na internet?

 
Quantos jornalistas são necessários para se montar um jornal na internet?
 

A resposta correta poderia ser: nenhum. Talvez meia dúzia de programadores ou desenvolvedores de software. O conteúdo já está na própria internet.

Mas será mesmo que isso é fazer jornalismo? Será que isso pode ser chamado de jornal?

É muito comum encontrarmos verdadeiros agregadores de conteúdo (declarados ou não) sendo chamados de “jornal online”, ou até mesmo de “portal de notícias”. Tanto no Brasil como ao redor do mundo. Qualquer semelhança com gilete-press não é mera coincidência.

As notícias desses jornais são oriundas, na maioria das vezes, da mídia tradicional, transcritas ou reescritas (o que não faz muita diferença), ou de outros veículos digitais. Isso sem falar das agências de notícias que tem seus textos cada vez mais publicados na íntegra em diversos veículos, até mesmo entre concorrentes. A produção própria de notícias pode beirar o zero.

“Este modelo, reduz a necessidade de jornalistas na própria redação, pelo que se acentua a tendência de um cibermeio focado mais na gestão de conteúdos gerados por terceiros do que na produção própria de conteúdos.”

A frase é de Ramón Salaverría, doutor em Jornalismo e diretor do Departamento de Processos Jornalísticos e do Laboratório de Comunicação Multimídia da Universidade de Navarra, em seu artigo: “Ciberperiodismo sin periodistas? Diez ideas para la regeneración de los profesionales de nos medios digitales”, disponível em PDF (em espanhol).

No mesmo texto, Salaverría cita dez ótimas idéias para melhorar o jornalismo feito na internet. Algumas parecem óbvias, mas não são comuns na prática.

Vamos a elas:

1. Apostar na reportagem, inclusive na internet

Salaverría diz que somente razões econômicas poderiam explicar porque, nos dias de hoje, praticamente nenhum cibermeio realize reportagens. Ele está certo, o problema é financeiro, porém, não está somente nos veículos digitais. Comumente vemos isso acontecer no impresso. No rádio e na TV fica mais difícil, porém, muitas vezes, as imagens/sonoras são as mesmas, só muda a edição.

No jornalismo digital, os jornalistas se limitam a utilizar conteúdos das mídias tradicionais e agências de notícias.

Assim como sempre defendi, a reportagem é a única que pode diferenciar um jornal de outro. Seja impresso, televisivo, radiofônico ou online.

2. Revisar primeiro, publicar depois

Essa é uma daquelas dicas que poderia parecer uma coisa óbvia, e até um insulto para alguns jornalistas mais experientes, porém, faz-se necessário reforçar, tendo em vista tantos absurdos que as publicações digitais têm cometido devido a sua precipitação.

A maxima “get it first, but first get it right”, se transformou em “just get it first”.

3. Completar a informação de última hora com conteúdos mais analíticos

De tanto privilegiar a informação de última hora, parece que muitos cibermeios têm se esquecido que podem oferecer também outras coisas. O leque de conteúdos oferecidos por muitas publicações digitais se resume a um simples informativo breve, que tem uma vida útil de poucas horas.

Os internautas querem também conteúdos mais elaborados, o webjornalismo se diferencia por isso. A professora Luciana Mielniczuk afirma que para ser caracterizado como webjornalismo, a publicação deve apresentar, simultaneamente, seis características. São elas: interatividade, personalização, hipertextualidade, multimidialidade, memória e instantaneidade.

Se for o caso, publique primeiro a notícia e depois atualize o conteúdo quando obtiver maiores informações.

4. Inovar em gêneros e formatos

Como se já não bastasse os meios digitais replicarem os conteúdos da mídia tradicional, também imitam suas formas!

Em muitos cibermeios de hoje encontramos notícias, entrevistas, reportagens, crônicas ou artigos escritos como se tivessem sido produzidos para o meio impresso. Renunciam aos links para enriquecer a informação e se abstém de experimentar novas narrativas, explica Salaverría.

Utilizam o mesmo linguajar jornalístico de sempre em um meio que, graças as suas características hipertextuais, interativas e multimídia, pode ser muito mais enriquecido. Lembra das seis características do tópico anterior?

Salaverría defende também a busca de um linguajar jornalístico próprio da internet como outro pilar fundamental na consolidação de um ciberjornalismo de qualidade.

Redação da Folha Online

5. Romper a barreira de gerações das redações

Passados mais de quinze anos após o aparecimento dos meios digitais, a idade média dos jornalistas que trabalham nas redações de produções digitais, como já era de se esperar, continua sendo a mais baixa de todos os meios.

Para Salaverría, o jornalista de internet responde pelo seguinte perfil: estudante ou recém formado em Jornalismo, em situação laboral precária, com certos conhecimentos tecnológicos no âmbito da web, porém, com escassa ou nula experiência profissional nos meios tradicionais.

Realmente é muito difícil encontrarmos profissionais com vasta experiência em redações digitais. Talvez por preconceito, por causa do salário, ou qualquer outro motivo.

É importante deixar claro que o objetivo do autor não é “papelizar” a internet com jornalistas experientes, mas sim incorporar experiência profissional a redações “recém-nascidas”. Porque não basta somente dominar as ferramentas tecnológicas, falta, também, dominar o Jornalismo da maneira como sempre foi transmitido dentro das redações: dos mais velhos aos mais jovens.

6. Integrar as redações, reforçar sobre a divisão digital

Novamente por problemas econômicos, diversas companhias jornalísticas acabaram implantando processos de convergência com a integração das redações. Jornalistas de impresso e online trabalhando lado a lado ou, até mesmo, dentro de um mesmo corpo.

Com isso, a integração das redações acaba por gerar o englobamento da redação de internet por parte do meio tradicional, que é mais poderoso.

“Todo o processo de convergência centrado no suporte ao meio tradicional, mais do que construir um desenvolvimento qualitativo da publicação digital, será uma ocasião perdida, e essas mesmas companhias jornalistas poderão se lamentar no futuro.”

7. Entender a contribuição do leitor como complemento

O leitor é participativo, cada vez mais. Ele não está somente disposto a receber informações. Ele quer interagir, participar, opinar….

Muito tem se falado nos últimos anos sobre o esse fenômeno que vem sendo chamado de “jornalismo cidadão”. Isso é, a publicação de conteúdos jornalísticos, ou não, por parte de usuários convencionais de internet através de seus blogs, microblogs e outras ferramentas digitais de publicação.

No início, falava-se muito que esses conteúdos “amadores” substituiriam a grande mídia. Na verdade, ainda se discute muito isso, porém, a cada dia fica mais claro que o público continua tendo maior interesse e confiança nos mídias tradicionais feitas por profissionais.

Cabe ao jornalista saber se aproveitar dessa nova interação e obter informações complementares a sua notícia, pontos de vista diferenciados e toda uma infinidade de vantagens que a experiência puder lhe fornecer.

8. Elaborar manuais de redação para os meios digitais

Alguns meios digitais já possuem manuais de redação próprios, porém, o que Salaverría defende são manuais mais completos, que determinem não apenas suas características gráficas e técnicas, mas sobretudo seus princípios e diretrizes editoriais.

“Os meios digitais se concentram em publicar alguns princípios de maneira muito genéricas, mediante declarações de intenções mais dirigidas ao público do que aos próprios jornalistas.”

Para Salaverría, a implementação de manuais internos de redação, que determinem tanto os princípios de atuação jornalista como as normas de estilo, seria um passo importante no processo de profissionalização dos meios digitais.

9. Definir padrões éticos específicos para o jornalismo na internet

Esse penúltimo tópico está diretamente ligado ao anterior.

Boa parte dos protocolos profissionais que se empregam na redação digital são os mesmos adotados nos meios tradicionais. Porém, o meio digital contempla situações e necessidades que lhe são peculiares e os as companhias jornalísticas deveriam orientar como seus profissionais deveriam se comportar diante delas.

Algumas dessas exigências específicas são, por exemplo, as seguintes:

a) definir quais são os critérios para se fazer links a outros sites;

b) determinar os padrões de uso de todo material retirado da internet e, em especial, os conteúdos gráficos e audiovisuais sujeitos a direitos autorais de reprodução;

c) delimitar os padrões de atuação com respeito aos dados pessoais publicados pelos internautas em páginas pessoais e perfis em redes sociais;

d) observar as normas de uso e comprovação com respeito aos conteúdos enviados à redação pelos usuários, tanto diretamente como por meio de comentário em notícias, fóruns e outras formas de interação dos meios digitais;

e) especificar os limites éticos e legais que precisam ser respeitados em investigações jornalísticas quanto ao uso de técnicas hackers e qualquer outro tipo de recurso digital dessa natureza;

f) determinar claramente a política de retificações em caso de se produzirem erros informativos;

g) considerar a possibilidade de incorporar a figura de um ombudsman encarregado de mediar às reclamações dos leitores.

10. Renovar o currículo de formação dos estudantes de Jornalismo na universidade

A regeneração profissional do Jornalismo na internet depende sobre tudo da competência daqueles que o exercerão.

Portanto, é necessário que os professores de Jornalismo e as universidades se atualizem, mas sem renunciar aos fundamentos e valores clássicos desta profissão.

E essa atualização deve ser constante para que os jovens graduados estejam capacitados para desempenhar profissionalmente em um dos meios que exigem novas competências.

Para finalizar, é bom deixar claro que de todas as idéias de Salaverría, nenhuma pode ser considerada nova ou inovadora. O que nos chama a atenção é o fato de ainda não vermo-nas em prática. Lembro de ter lido muita coisa sobre o assunto, em 2003, no livro Jornalismo Digital, da Pollyana Ferrari, e em outros livros e artigos também de meados do ano 2000.

Dez anos se passaram! Muita coisa mudou, mas essas mudanças não foram suficientes para demonstrar um amadurecimento consistente do Jornalismo feito na internet.

E só para não deixar a pergunta do título sem resposta, a mesma já havia sido feita no blog Periodistas 21 com o título “¿Cuántos periodistas debe tener un medio digital?”. Por lá, chegou-se ao número, que considero utópico nos dias atuais, de que seriam necessários no mínimo 30 profissionais para manter um jornal web. Eles seriam divididos da seguinte maneira:

– 1 diretor
– 18 redatores
– 2 editores de vídeo
– 2 gestores sociais
– 2 designers
– 3 programadores
– 1 responsável pelo marketing/comercial
– 1 gerente

Porém, você já deve ter percebido que o real objetivo desse texto não é o de ficar elaborando fórmulas mágicas que possam definir quantos jornalistas são necessários e sim o de tentarmos melhorar a qualidade daquilo que é feito hoje do Jornalismo na internet.

Temos que pensar, refletir e decidir o que faremos com o Jornalismo Online, pois, as possibilidades são infinitas.

Mas é importante que nós tenhamos em mente que a quantidade de informações publicadas a cada segundo na internet é imensurável. Você já deve ter ouvido falar em “overload” ou sobrecarga de informação. No mesmo livro de 2003, Ferrari diz que:

“O internauta é bombardeado 24 horas por dia e sete dias por semana com informações e dados, que podem ser arquivos de texto, áudio, vídeo ou imagens”.

E é impossível absorver e/ou utilizar tudo o que é publicado nessa verdadeira enxurrada de conteúdo.

Portanto, é melhor perder um pouco mais de tempo e fazer algo que realmente valha a pena ser publicado ao invés de fornecer a mesma notícia que todos já leram em outros lugares.

Não estou dizendo que os cibermeios não devam se utilizar de sua instantaneidade e parar de fornecer notícias em primeira mão, porém, convém lembrar que existem muitos outros veículos fazendo exatamente a mesma coisa.

Você só poderá se destacar se for capaz de acrescentar algo ao que todo mundo já sabe e agregar conteúdo relevante àqueles que lêem seus textos.

Com certeza seus leitores vão agradecer.

A resposta correta poderia ser: nenhum. Talvez meia dúzia de programadores ou desenvolvedores de software. O conteúdo já está na própria internet.

Mas será mesmo que isso é fazer jornalismo? Será que isso pode ser chamado de jornal?

É muito comum encontrarmos verdadeiros agregadores de conteúdo (declarados ou não) sendo chamados de “jornal online”, ou até mesmo de “portal de notícias”. Tanto no Brasil como ao redor do mundo. Qualquer semelhança com gilete-press não é mera coincidência.

As notícias desses jornais são oriundas, na maioria das vezes, da mídia tradicional, transcritas ou reescritas (o que não faz muita diferença), ou de outros veículos digitais. Isso sem falar das agências de notícias que tem seus textos cada vez mais publicados na íntegra em diversos veículos, até mesmo entre concorrentes. A produção própria de notícias pode beirar o zero.

“Este modelo, reduz a necessidade de jornalistas na própria redação, pelo que se acentua a tendência de um cibermeio focado mais na gestão de conteúdos gerados por terceiros do que na produção própria de conteúdos.”

A frase é de Ramón Salaverría, doutor em Jornalismo e diretor do Departamento de Processos Jornalísticos e do Laboratório de Comunicação Multimídia da Universidade de Navarra, em seu artigo: “Ciberperiodismo sin periodistas? Diez ideas para la regeneración de los profesionales de nos medios digitales”, disponível em PDF (em espanhol).

No mesmo texto, Salaverría cita dez ótimas idéias para melhorar o jornalismo feito na internet. Algumas parecem óbvias, mas não são comuns na prática.

Vamos a elas:

1. Apostar na reportagem, inclusive na internet

Salaverría diz que somente razões econômicas poderiam explicar porque, nos dias de hoje, praticamente nenhum cibermeio realize reportagens. Ele está certo, o problema é financeiro, porém, não está somente nos veículos digitais. Comumente vemos isso acontecer no impresso. No rádio e na TV fica mais difícil, porém, muitas vezes, as imagens/sonoras são as mesmas, só muda a edição.

No jornalismo digital, os jornalistas se limitam a utilizar conteúdos das mídias tradicionais e agências de notícias.

Assim como sempre defendi, a reportagem é a única que pode diferenciar um jornal de outro. Seja impresso, televisivo, radiofônico ou online.

2. Revisar primeiro, publicar depois

Essa é uma daquelas dicas que poderia parecer uma coisa óbvia, e até um insulto para alguns jornalistas mais experientes, porém, faz-se necessário reforçar, tendo em vista tantos absurdos que as publicações digitais têm cometido devido a sua precipitação.

A maxima “get it first, but first get it right”, se transformou em “just get it first”.

3. Completar a informação de última hora com conteúdos mais analíticos

De tanto privilegiar a informação de última hora, parece que muitos cibermeios têm se esquecido que podem oferecer também outras coisas. O leque de conteúdos oferecidos por muitas publicações digitais se resume a um simples informativo breve, que tem uma vida útil de poucas horas.

Os internautas querem também conteúdos mais elaborados, o webjornalismo se diferencia por isso. A professora Luciana Mielniczuk afirma que para ser caracterizado como webjornalismo, a publicação deve apresentar, simultaneamente, seis características. São elas: interatividade, personalização, hipertextualidade, multimidialidade, memória e instantaneidade.

Se for o caso, publique primeiro a notícia e depois atualize o conteúdo quando obtiver maiores informações.

4. Inovar em gêneros e formatos

Como se já não bastasse os meios digitais replicarem os conteúdos da mídia tradicional, também imitam suas formas!

Em muitos cibermeios de hoje encontramos notícias, entrevistas, reportagens, crônicas ou artigos escritos como se tivessem sido produzidos para o meio impresso. Renunciam aos links para enriquecer a informação e se abstém de experimentar novas narrativas, explica Salaverría.

Utilizam o mesmo linguajar jornalístico de sempre em um meio que, graças as suas características hipertextuais, interativas e multimídia, pode ser muito mais enriquecido. Lembra das seis características do tópico anterior?

Salaverría defende também a busca de um linguajar jornalístico próprio da internet como outro pilar fundamentar na consolidação de um ciberjornalismo de qualidade.

5. Romper a barreira de gerações das redações

Passados mais de quinze anos após o aparecimento dos meios digitais, a idade média dos jornalistas que trabalham nas redações de produções digitais, como já era de se esperar, continua sendo a mais baixa de todos os meios.

Para Salaverría, o jornalista de internet responde pelo seguinte perfil: estudante ou recém formado em Jornalismo, em situação laboral precária, com certos conhecimentos tecnológicos no âmbito da web, porém, com escassa ou nula experiência profissional nos meios tradicionais.

Realmente é muito difícil encontrarmos profissionais com vasta experiência em redações digitais. Talvez por preconceitou, por causa do salário, ou qualquer outro motivo.

É importante deixar claro que o objetivo do autor não é “papelizar” a internet com jornalistas experientes, mas sim incorporar experiência profissional a redações “recém-nascidas”. Porque não basta somente dominar as ferramentas tecnológicas, falta, também, dominar o Jornalismo da maneira como sempre foi transmitido dentro das redações: dos mais velhos aos mais jovens.

6. Integrar as redações, reforçar sobre a divisão digital

Novamente por problemas econômicos, diversas companhias jornalísticas acabaram implantando processos de convergência com a integração das redações. Jornalistas de impresso e online trabalhando lado a lado ou, até mesmo, dentro de um mesmo corpo.

Com isso, a integração das redações acaba por gerar o englobamento da redação de internet por parte do meio tradicional, que é mais poderoso.

“Todo o processo de convergência centrado no suporte ao meio tradicional, mais do que construir um desenvolvimento qualitativo da publicação digital, será uma ocasião perdida, e essas mesmas companhias jornalistas poderão se lamentar no futuro.”

7. Entender a contribuição do leitor como complemento

O leitor é participativo, cada vez mais. Ele não está somente disposto a receber informações. Ele quer interagir, participar, opinar….

Muito tem se falado nos últimos anos sobre o esse fenômeno que vem sendo chamado de “jornalismo cidadão”. Isso é, a publicação de conteúdos jornalísticos, ou não, por parte de usuários convencionais de internet através de seus blogs, microblogs e outras ferramentas digitais de publicação.

No início, falava-se muito que esses conteúdos “amadores” substituiriam a grande mídia. Na verdade, ainda se discute muito isso, porém, a cada dia fica mais claro que o público continua tendo maior interesse e confiança nos mídias tradicionais feitas por profissionais.

Cabe ao jornalista saber se aproveitar dessa nova interação e obter informações complementares a sua notícia, pontos de vista diferenciados e toda uma infinidade de vantagens que a experiência puder lhe fornecer.

8. Elaborar manuais de redação para os meios digitais

Alguns meios digitais já possuem manuais de redação próprios, porém, o que Salaverría defende são manuais mais completos, que determinem não apenas suas características gráficas e técnicas, mas sobretudo seus princípios e diretrizes editoriais.

“Os meios digitais se concentram em publicar alguns princípios de maneira muito genéricas, mediante declarações de intenções mais dirigidas ao público do que aos próprios jornalistas.”

Para Salaverría, a implementação de manuais internos de redação, que determinem tanto os princípios de atuação jornalista como as normas de estilo, seria um passo importante no processo de profissionalização dos meios digitais.

9. Definir padrões éticos específicos para o jornalismo na internet

Esse penúltimo tópico está diretamente ligado ao anterior.

Boa parte dos protocolos profissionais que se empregam na redação digital são os mesmos adotados nos meios tradicionais. Porém, o meio digital contempla situações e necessidades que lhe são peculiares e os as companhias jornalísticas deveriam orientar como seus profissionais deveriam se comportar diante delas.

Algumas dessas exigências específicas são, por exemplo, as seguintes:

a) definir quais são os critérios para se fazer links a outros sites;

b) determinar os padrões de uso de todo material retirado da internet e, em especial, os conteúdos gráficos e audiovisuais sujeitos a direitos autorais de reprodução;

c) delimitar os padrões de atuação com respeito aos dados pessoais publicados pelos internautas em páginas pessoais e perfis em redes sociais;

d) observar as normas de uso e comprovação com respeito aos conteúdos enviados à redação pelos usuários, tanto diretamente como por meio de comentário em notícias, fóruns e outras formas de interação dos meios digitais;

e) especificar os limites éticos e legais que precisam ser respeitados em investigações jornalísticas quanto ao uso de técnicas hackers e qualquer outro tipo de recurso digital dessa natureza;

f) determinar claramente a política de retificações em caso de se produzirem erros informativos;

g) considerar a possibilidade de incorporar a figura de um ombudsman encarregado de mediar às reclamações dos leitores.

10. Renovar o currículo de formação dos estudantes de Jornalismo na universidade

A regeneração profissional do Jornalismo na internet depende sobre tudo da competência daqueles que o exercerão.

Portanto, é necessário que os professores de Jornalismo e as universidades se atualizem, mas sem renunciar aos fundamentos e valores clássicos desta profissão.

E essa atualização deve ser constante para que os jovens graduados estejam capacitados para desempenhar profissionalmente em um dos meios que exigem novas competências.

Para finalizar, eu acredito que o jornalismo feito na internet talvez não esteja mais engatinhando, mas seja um adolescente que ainda está decidindo o que fará de sua vida.

De todas as idéias de Salaverría, nenhuma pode ser considerada nova ou inovadora. O que nos chama a atenção é o fato de ainda não vermo-nas em prática. Lembro de ter lido muita coisa sobre o assunto, em 2003, no livro Jornalismo Digital, da Pollyana Ferrari, e em outros livros e artigos também de meados do ano 2000.

Dez anos se passaram! Muita coisa mudou, mas essas mudanças não foram suficientes para demonstrar o amadurecimento do Jornalismo feito na internet.

Temos que pensar, refletir e decidir o que faremos com o Jornalismo Online, pois, as possibilidades são infinitas.

Leia também:

 

5 Comentários para “Quantos jornalistas são necessários para se montar um jornal na internet?”

  1. Isadora diz:

    Mesmo em tempos de interatividade, com a web 2.0, as pessoas ignoram a ideia principal de M. Mcluhan, de que o meio é a mensagem. De que diabos adianta colocar uma matéria que saiu no jornal que estava pronto às 23h59 de ontem escrita exatamente igual na web? Sem complementação, sem interatividade, só ctrl+c, ctrl+v…
    Às vezes acho que a internet não deveria ser só para chegar primeiro e ser mais águl: deveria ser também mais criativa, dada a quantidade de possibilidades!

  2. Gabriel Tavares diz:

    Ola Bruno, gostaria de parabeniza-lo pelo artigo, muito bem desenvolvido e elaborado. Fico muito feliz em ver seu crescimento, desejo muito sucesso !

    Grande abraço e mais uma vez parabens, continue cada vez mais nos causando reflexões !

  3. Stefanie Macêdo diz:

    Primeiramente, parabéns pelo post: você sempre consegue levantar discussões que pretendem nos mostrar melhor o cenário da comunicação.
    Nesse post pudemos observar que, com a evolução nos meios de comunicação e em tempos de facilidade na informação, em vez de as redes de informação buscarem se aprimorar e difundir mais a ideia de informação revisada, concisa e verdadeira, se mostram banalizando a notícia; o que também acontece com os novos meios de comunicação – e é lamentável. Como a Isadora disse acima, é tudo um ‘ctrl+c, ctrl+v’ de dados, não há nenhuma inovação, o que afasta o público do jornalismo.

  4. Heitor diz:

    Fala Bruno, tudo certo?!

    Cara, esse seu post dá uma receita incrível para os novos tempos do jornalismo digital. E mesmo assim, com todos os detalhes, todos os fundamentos, os grupos de mídia continuam errando a mão – e feio! – quando o assunto é tratar com respeito o conteúdo e o leitor online.

    De fato, a questão “investimento em pessoal e financeiro” pesa bastante, mas mesmo os grupos mais avantajados nesse sentido tratam o conteúdo digital como outro qualquer (G1 é craque em colar o mesmo texto da reportagem da TV Globo, até com as notas e chamadas lidas pelos âncoras…).

    E quando falamos em gilette press 2.0, sem dúvida nenhuma retroagimos no desenvolvimento do jornalismo. E assim, no que se refere no desenvolvimento da profissão, migra-se cada vez mais do “ser jornalístico” para o “fazer jornalístico”. A técnica, ao que parece, se torna mais importante do que o fundamento.

    É caro amigos, são os novos tempos!

    Abraços,

  5. Heitor diz:

    Ah, esqueci: um ótimo exemplo de jornalismo online que eu acho é o Garapa: http://garapa.org/

    Conhecem mais algum?

    Abraços,

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Este texto foi impresso do blog oJornalista.com (http://www.ojornalista.com/).

Autor: Bruno Cardoso (bruno@inexato.com).